Marechal Rondon
Os Correios, por meio do Museu Correios, como parte das atividades da 5ª Reunião Técnica do Grupo de Trabalho de Economia Digital – DEWG do G20 para a SEXEC, apresenta a exposição sobre a vida e as atividades de Cândido Mariano da Silva Rondon, Marechal Rondon, e suas contribuições para a integração regional e nacional, direitos humanos e desenvolvimento científico e econômico do Brasil.
Marechal Rondon
Como pioneiro no esforço de integração nacional, levou o telégrafo a lugares distantes do Brasil e conectou a Amazônia ao Rio de Janeiro, criando o primeiro sistema de comunicações do Centro-Norte do Brasil, gerando conexão entre as regiões e o Brasil e desenvolvimento econômico, o que o consagrou como Patrono das Comunicações.
Marechal Rondon explorou as regiões mais remotas do Brasil. Nesse esforço como sertanista deixou relevante contribuição científica, considerando que nas atividades das comissões, realizou estudos geográficos, cartográficos, zoológicos, botânicos e geológicos nos pantanais de Mato Grosso.
Como humanista, descobriu novas civilizações indígenas, promoveu a pacificação, integração e a proteção desses povos, atuou para a delimitação das terras indígenas e criou o Serviço de Proteção ao Índio, embrião da atual Funai.
Marechal Rondon sempre será reconhecido pelas significativas contribuições para o Brasil. Todo seu empenho na instalação e ampliação da rede telegráfica fortaleceu o desenvolvimento econômico regional e nacional e também marcou sua trajetória como um grande impulsionador da inovação, tecnologia, defensor e promotor ímpar do indigenismo nacional.
Biografia
Cândido Mariano da Silva (Marechal Rondon) nasceu em Mimoso, hoje Santo Antônio de Leverger (MT), em 5 de maio de 1865. Filho de Cândido Mariano e de Claudina Lucas Evangelista, neta de índios Bororos. Estudou nas Escolas Mestre Cruz e Pública Professor João B. de Albuquerque. Em 1881, formou-se professor. O sobrenome Rondon foi acrescido em homenagem ao tio que lhe criou. Casou-se com Francisca Xavier e teve seis filhas e um filho.
Ingressou no exército como praça na Escola Militar da Praia Vermelha no Rio de Janeiro em 1889, tornando-se oficial do Exército Brasileiro. Em 1956, foi promovido a marechal pelo Exército quando tinha 90 anos. Foi militar durante toda a sua vida.
Imortalizou-se trabalhando na linha de frente das comissões de instalação das linhas telegráficas, de 1890 a 1910, período em que efetivou a ligação e a consequente integração de áreas remotas do país, como o Centro-Oeste ao Norte. Após participar dessas comissões, também integrou a Expedição Científica Rondon-Roosevelt, de 1913 a 1914.
Aclamado no exterior, diversas vezes, por seu trabalho em prol da causa indígena foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Seu lema destaque imortalizado nessa atuação foi "Morrer se preciso for, matar nunca” .
Engenheiro, militar, sertanista, cientista, indigenista, humanista e professor, faleceu no dia 19 de fevereiro de 1958, em sua residência no Rio de Janeiro.
Marechal Rondon tem um destaque maior na história do Brasil, dada a grandeza do trabalho que desenvolveu. Ao longo dos anos, recebeu diversas homenagens para reverenciar e seu protagonismo:
- As cidades receberam nomes em sua homenagem: Rondonópolis (Mato Grosso) e Marechal Cândido Rondon (Paraná);
- O estado de Rondonia, anteriormente território de Guaporé;
- Diversas emissões filatélicas feitas pelos Correios sobre a vida e trabalhos do Marechal Rondon;
- Cédula de homenagem ao Marechal Rondon, emitida pela Casa da Moeda do Brasil, que circulou no país de 1990 a 1994.
Comissões
A constituição e organização das comissões para construção da rede telegráfica nas regiões Centro Oeste e Norte, especialmente do Mato Grosso ao Amazonas surgiram da necessidade de uma comunicação mais ágil para a administração do território nacional e uma maior integração inclusive para a proteção das fronteiras. Essa falta de comunicação e integração foi resolvida com a construção de milhares de quilômetros de linhas telegráficas
Vale destacar que os trabalhos das comissões transcendem a construção das linhas telegráficas, pois trouxeram ganhos científicos uma vez que essas explorações o desenvolvimento de mapeamentos geográficos e levantamento de dados socioeconômicos: população, às riquezas naturais do solo, capacidade de produção, recursos atuais, vias de comunicação e outros elementos.
Em 1890, já sob o governo de Deodoro da Fonseca organizou-se a denominada Comissão de Linhas Telegráficas de Cuiabá ao Araguaia, ligando Cuiabá a um ponto do rio Araguaia, para se encontrar com a linha que vinha de Goiás. Essa comissão era chefiada pelo Major Ernesto Gomes Carneiro e Cândido Mariano da Silva Rondon era seu ajudante com a patente de 1º Tenente. O conhecimento da região e também a ascendência indígena contribuíram para a indicação do nome de Rondon para integrar a comissão telegráfica.
O contato com Gomes Carneiro foi importante na formação de Rondon como sertanista. Com o major Carneiro Gomes, Rondon aprendeu uma lição levada por toda a sua vida: manter contato pacífico com os índios. Ao longo dos trabalhos da comissão, Carneiro Gomes lidou com situações que obrigaram todos os membros a fugirem de um local no meio da mata durante a noite por conta de evidências de que seriam atacados por indígenas. Rondon aprendeu então que o contato pacífico com esses povos era a melhor forma de garantir o sucesso da missão.
Após o fim dessa expedição, foi concluído o trecho de 580 km de linha telegráfica entre Cuiabá e uma estação no oeste de Goiás, às margens do rio Araguaia, de onde deveria se conectar com o restante do País. Cerca de 100 praças fizeram parte dessa comissão.
A partir de 1907, Rondon integrou uma nova comissão: a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas. Ela foi criada com o objetivo de estender a rede telegráfica do Mato Grosso ao Vale Amazônico e executar medidas que consolidassem a incorporação ao Brasil dos territórios do Acre, do Porus e do Juruá. Ele desejava que a tomada de posse dessa parte de sertão fosse feita priorizando a integração dessa região à rede telegráfica brasileira. O foco era o mesmo: ampliar a integração de um vasto território entendido como pouco conhecido pelo governo brasileiro e no qual a comunicação era complicada. O primeiro passo para isso era explorar a região para que então pudesse ser realizada a construção.
Expedição Rondon-Roosevelt
Realizada entre 1913 e 1914, resulta de uma política de aproximação dos Estados Unidos com os países da América do Sul. O Ex- Presidente, Theodore Roosevelt Jr. estava realizando uma série de conferências e, para o final da sua jornada solicitou ao ministro das Relações Exteriores do Brasil, Lauro Müller a realização de uma expedição e a viagem se tornou uma missão científica. A empreitada contou com a presença de cientistas brasileiros e norte-americanos, que exploraram e estudaram regiões do vale dos rios Paraguai e Amazonas.
O objetivo dessa expedição era mapear o rio da Dúvida, curso d'água de extensão desconhecida, entre Rondônia e o Amazonas, e descoberto pelo próprio Rondon, em 1909. Enquanto alguns geógrafos acreditavam que o Dúvida desembocava no Ji-Paraná ou no Tapajós, Rondon sempre acreditou que a foz daquele rio perdido fosse no Madeira. Em abril de 1914, na confluência dos rios Castanho e Aripuanã, o Brasil ficaria sabendo que o experiente Rondon tinha razão. O país "ganhava" mais um rio. E o "hóspede americano", um rio inteiro em sua homenagem: o Roosevelt.
A expedição também foi notícia no exterior e certamente contribuiu para que a figura e os feitos de Rondon passassem a ser conhecidos também internacionalmente. Além da publicação de um livro contando suas aventuras, o próprio Roosevelt realizou diversas conferências sobre o tema. Numa delas afirmaria que a “América pode apresentar ao mundo duas realizações ciclópicas: ao Norte a abertura do canal do Panamá, ao Sul, o trabalho de Rondon - científico, prático e humanitário”.
É possível afirmar que a repercussão da expedição tenha contribuído muito, não só para a divulgação das atividades da Comissão no Noroeste do país, mas que foi fundamental para a construção da imagem heroica de Rondon, expressa numa inscrição de seu nome, em “letras de ouro maciço”, na sociedade de Geografia de Nova Iorque, ao lado de exploradores famosos como Amundsen, Peary, Charcote Byrd, como o explorador que mais devassou terras tropicais. Como resultados da expedição podem ser destacados:
- Catalogação inúmeras espécimes de aves, mamíferos, répteis e peixes;
- Descoberta e levantamento de rios até então inexplorados, como o Rio da Dúvida;
- Recolha de materiais científicos para os países participantes;
- Contacto com indígenas;
- Enfrentamento de problemas com insetos, doenças como a malária e corredeiras de rios.
Integração e Proteção dos Índigenas
Enquanto sertanista, Rondon passou sua vida explorando as regiões mais remotas do Brasil. Em todas as expedições que realizou, ficou conhecido pelo respeito aos indígenas e pela luta para que os direitos deles fossem garantidos. A primeira postura de Rondon a respeito dos indígenas foi a de defender a integração desses povos com a sociedade brasileira, mas apenas se fosse realizada pacífica e voluntariamente. Essa posição foi sendo abandonada nos últimos anos da vida de Rondon porque ele passou a questionar a forma como as autoridades tratavam os índios e também a acreditar no direito deles de permanecerem isolados.
Rondon sempre manteve contato pacífico com diferentes povos indígenas. Essa posição rendeu-lhe sucesso em suas relações. Alguns povos indígenas, como os bororos, chegaram até a auxiliar Rondon durante uma de suas expedições. Lutou junto aos governos para que fossem demarcadas zonas de proteção com vistas a garantir a sobrevivência e o modo de vida dos indígenas, uma vez que constatou ações violentas contra os povos indígenas. Rondon foi um incentivadores da criação da reserva indígena no Mato Grosso conhecida como Parque Nacional Indígena do Xingu.
Dentre os povos indígenas que Rondon manteve contato destacam-se Terenas, Quiniquenaus Bororo, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya, Paresi, Cabixi e Macurape.
A partir das interações com os indígenas, Rondon elaborou esboços gramaticais, glossário geral e compilou vocabulários, lendas, cânticos e notas etnográficas das tribos indígenas do Mato Grosso, Amazônia e outras regiões do Norte do Brasil.
A partir de 1910, foi criada uma instituição da qual Rondon foi um dos grandes defensores, o Serviço de Proteção ao Índio. Foi o primeiro diretor do órgão quando foi criado e atuou na defesa dos indígenas contra a violência de fazendeiros, garimpeiros e seringueiros que desejavam invadir suas terras e também esteve na direção do Conselho Nacional de Proteção ao Índio. A frente do SPI, ele sustentava o seguinte lema: “Morrer se preciso for, matar nunca”.
Esse lema demonstrava a disposição de Rondon a nunca agir com violência contra os indígenas, mesmo se ele fosse tratado violentamente.
Por seu trabalho em prol da causa indígena foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz.